"As pessoas me perguntam por que eu escrevo coisas tão brutas. Gosto de dizer que tenho um coração de menino; está guardado num vidro em cima da minha escrivaninha."

(Stephen King)



terça-feira, 23 de agosto de 2011

Bem aventurado


Silas estava sentado no primeiro banco da igreja, bocejando aborrecido. Podia estar largado diante da TV, aproveitando o feriado, não fosse por sua sogra carola, apoiada pela esposa, que o obrigara a acompanhá-las. Tudo bem, viera até ali, esperaria por elas, mas seguir a procissão da “paixão”, isso ele se recusara terminantemente.
Fitava o altar despido de seus ornamentos, enquanto se lembrava da época em que também era católico e acreditava. Não chegara ao ateísmo, mas na juventude sua fé começou a questioná-lo e se tornara inconveniente. Então, ao invés de buscar uma crença mais flexível, ele optara por simplesmente seguir a vida sem religião. Já na faculdade, foi sua vez de questionar a fé e ela lhe pareceu frágil e pouco crível. Silas era professor de matemática há 20 anos e para alguém tão acostumado à exatidão dos números, a fé ficava condicionada a algum tipo de prova.
Levantou-se e caminhou até o nicho que abrigava uma imagem, em tamanho real, de Jesus Cristo. Parou diante dela e começou a conversar:
— Pois é, seus fiéis estão lá fora revivendo a sua crucificação. Eu tinha dúvida se eles eram sádicos ou masoquistas, mas então os vi malhando o Judas num sábado de aleluia e tudo ficou claro.