"As pessoas me perguntam por que eu escrevo coisas tão brutas. Gosto de dizer que tenho um coração de menino; está guardado num vidro em cima da minha escrivaninha."

(Stephen King)



segunda-feira, 11 de junho de 2018

Apneia

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Não foi teu fogo,
Ou tuas unhas a rasgar minha pele,
Nem o trovão de tua voz em meus ouvidos.
Eu precisava respirar.
Um fôlego apenas.
Um instante, e não estavas mais lá.
Já esperava a partida, nunca desejei o retorno.

Mas agora que teus passos voltam a ecoar pela casa,
Sinto as mariposas baterem contra o frágil vidro em meu peito.
Não esperaste convite, tens a chave da rua,... da sala,... do quarto,
Dos armário onde tentamos esconder nossos trastes empoeirados.
Onde me encontraste, afinal?

Já que estais, fica.
Só não me tomes pela mão, nem me toques com o olhar.
Não tentemos ser o que jamais fomos.
Ofereço-te a mesma valsa.
Aprendi a dançar sobre os cacos que deixas espalhados no chão.
Corta mais fundo, eu me encarrego de esconder as cicatrizes.
Só sangra em mim e deixa que eu lide com a bagunça.

Pensas que esqueci de que és dor ou morte?
Não.
Mas me ensinaste a decidir depressa.
Já não pondero.
Eis-me, então, agarrada a ti como nunca.
Tal qual náufrago em desespero, arrasto nós dois para o fundo.
Sem pausa para fôlego.
Estaremos mortos antes que eu precise respirar de novo.
Nenhum de nós virá à tona.
Nenhum de nós vai embora.
Desta vez, ninguém há de viver/morrer sozinho.