"As pessoas me perguntam por que eu escrevo coisas tão brutas. Gosto de dizer que tenho um coração de menino; está guardado num vidro em cima da minha escrivaninha."

(Stephen King)



terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A bruxa, o frade e os guardiões






Depois de uma noite terrivelmente longa, o dia enfim amanhecia e a vila continuava envolta em sombras. A densa neblina, que descera há alguns dias, permanecia, tornando tudo mais lúgubre. O cheiro da carne queimada ainda impregnava o ar, embora a fogueira há muito se tivesse extinguido. Thomas Bower achava que jamais se livraria daquele odor, nem tampouco dos horríveis gritos de Marybeth.
Não chorara por ela, nem o faria; não tinha esse direito. Não depois de tê-la arrastado para fora de casa, enquanto ela lhe implorava que acreditasse nela. Muito menos depois de tê-la entregado aos seus algozes, quando, no fundo, não acreditava realmente em sua culpa. Covarde era ele e merecia todo o sofrimento e o remorso que carregava.
Caminhava apressado através do nevoeiro, seguido de perto pelo jovem William. Mais uma morte ocorrera na madrugada, sinal de que queimar a bruxa não havia resolvido os problemas. Então, como principal membro do conselho da vila, coube a ele a tarefa de ir até a casa, na margem do bosque, buscar as respostas que pudessem solucionar aquela situação.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Tarde demais pra esquecer




Embora o dia estivesse frio em São Paulo, Lucas pediu ao taxista para deixá-lo a dois quarteirões de seu destino. Queria caminhar um pouco, refletir sobre o telefonema recebido um dia antes. A verdade era que não tinha nenhuma pressa de chegar ao encontro marcado e ainda se perguntava por que havia concordado com aquilo. A princípio, pensou que fosse apenas curiosidade, mas acabou aceitando que havia mais em sua decisão. Ele sabia que aquela história não estava encerrada e talvez já fosse hora de dar a ela um fim.
Lembrou-se da última vez em que tinham se encontrado, há dez anos, naquele mesmo local e das palavras de ódio que trocaram. Desde então, não se falaram mais. Nesse tempo, chegou a acreditar que aquilo já não o afetava, que havia superado, mas bastou ouvir sua voz ao telefone para que toda a mágoa viesse à tona.