"As pessoas me perguntam por que eu escrevo coisas tão brutas. Gosto de dizer que tenho um coração de menino; está guardado num vidro em cima da minha escrivaninha."

(Stephen King)



quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A filha do compadre




Mariana estava largada no sofá assistindo à novela, quando o telefone começou a tocar. 
Lá do quarto, José gritou:
—  Mari, atende aí que eu tô acabando de me vestir.
Não houve resposta e a campainha continuou a ecoar no apartamento. 
José soltou um suspiro, calçando os chinelos. Maldita novela, pensou, arrastando-se até a sala. Lançou à esposa um olhar de desprezo que ela ignorou completamente; estava absorta com a cena de discussão na TV.
— Alô.
Sim, é ele.
Oi, Cumpadre. Quanto tempo, hein?
Pois é. Já tem pra mais de três anos, né?
Mariana vai bem. Tá ali assistindo a novela.
A cumadre Elsa também? É... Coisa de mulher.
Eu não! Se ainda fosse um futebolzinho.
É, jogo do Timão eu não perco.
Não, este ano não. O time tá bom. Hahaha...
É mesmo, Cumpadre? O que foi que houve?

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O filho morto



— Mamãe.
Amy sentou-se na cama, assustada. O chamado do filho caçula, embora apenas um sussurro, fora nítido em seu ouvido. Ela levou as mãos ao rosto e esfregou os olhos, sonolenta. Não podia ser Paul, certamente não passara de um sonho. Levantou-se, vestiu o robe e foi até o quarto das crianças, certificar-se de que Arthur, seu mais velho, estava bem. Ficou observando-o da porta e vê-lo dormir tão serenamente encheu seu coração de ternura. Estava para ir até ele, quando seus olhos encontraram a cama de Paul, arrumada e coberta de bichos de pelúcia. Não pôde continuar ali, precisou sufocar os soluços e sair apressadamente para não acordar Arthur.
De volta ao seu quarto e abraçada ao retrato do filho mais novo, Amy chorou copiosamente.
— Que saudade, meu filho — murmurou.
Estava prestes a apagar as luzes, quando um barulho vindo da sala ecoou no apartamento. Amy pôs-se em pé num salto, indecisa sobre ir ou não averiguar o que acontecera. Que bobagem, Amy. Esta é sua casa, trancada e segura. Provavelmente o gato derrubou alguma coisa, pensou.
Na sala, uma das janelas estava aberta e o vento forte fazia as cortinas esvoaçarem. Um abajur, que ficava próximo a elas, jazia no chão em pedaços. Aí está, a cortina derrubou o abajur, pensou, mas então um arrepio subiu-lhe pelas costas. Quem teria aberto a janela? Estava certa de ter trancado tudo antes de ir deitar-se. Amy foi até lá e olhou para fora. Um mês antes, fora dali que Paul saltara para a morte. Trancou-a e afastou-se dela horrorizada.