"As pessoas me perguntam por que eu escrevo coisas tão brutas. Gosto de dizer que tenho um coração de menino; está guardado num vidro em cima da minha escrivaninha."

(Stephen King)



sexta-feira, 29 de junho de 2012

Cumplicidade




— Mamãe, o monstro embaixo da minha cama não me deixa dormir.
A mãe sentou-se, esfregando os olhos. Era a terceira vez naquela noite e a quarta
noite consecutiva em que a menina vinha acordá-la por conta do monstro.
 — Meu bem, eu já olhei duas vezes, lembra? Não há nada lá.
 — Ele disse que vai embora quando comer alguma coisa — disse a filha, com olhar
suplicante.
 Vendo que não tinha escolha, a mãe afastou as cobertas e pôs-se em pé, sem
disfarçar a impaciência. Entrou no quarto da criança, silencioso como um túmulo,
acendeu a pequena luz da cabeceira e, antes que tivesse a chance de se abaixar,
uma mão grotesca, com garras retorcidas, agarrou seu tornozelo, arrastando-a para
debaixo da cama. Ela se debateu e lutou, enquanto uma dor lacerante subia-lhe
pelas pernas, alcançava seu ventre e depois o peito. Logo não houve mais luta e o
quarto ficou quieto novamente.
A menina, que observava tudo à distância, aproximou-se e subiu na cama.
 — Espero que agora você me deixe dormir — disse, apagando a luz.