Somos o fracasso.
Independente do que acreditamos não há como nos vermos de outra maneira. Somos o fracasso da Criação e da Evolução. Não
atendemos às expectativas de Deus, nem tampouco somos melhores que
nossos ancestrais primitivos. Ainda somos turba, somos bárbaros,
somos animais guiados por instintos e sem empatia. Não qualquer
animal, somos os piores, pois nos julgamos superiores.
Adoramos ser o que somos. Orgulhosos das bandeiras que levantamos e
das fronteiras que nos limitam. Somos homens, mulheres, machistas,
feministas, homos, héteros, cristãos, muçulmanos, ateus, liberais,
conservadores, capitalistas, comunistas, negros, brancos... só não
somos humanos. Certamente não no sentido de enxergarmos o outro como
semelhante.
Somos educados, ou fingimos ser, e dizemos que “aceitamos” as
diferenças, mas, cá entre nós, de que vale e a quem pode interessar essa aceitação?
Falamos em respeito e bradamos por ele. Contudo nosso respeito acaba
quando saímos da condição de quem pleiteia para a de quem decide.
E decidimos sempre pensando em nós . Fazemos concessões
esperando que o mesmo seja feito em contrapartida. E quando
frustrados, não nos furtamos de exigir a reciprocidade. Ora, que
nobre somos!
E nos arrastamos nessa dança macabra há milênios, vivendo a ilusão
de que melhoramos, evoluímos, nos aperfeiçoamos. Inocentes ou
hipócritas, não importa, o que vale é seguir em frente. Até nos
depararmos com cenas que nos fazem lembrar de onde viemos.
Acontecimentos que chocam e nos fazem virar o rosto. Repudiamos, é
claro, e repetimos o mantra de que não somos assim. Não matamos,
não torturamos, não sequestramos, não massacramos... não somos
assim!
Daí criamos mais um “ELES”. Mas o que são ELES, então, se não
são NÓS?
ELES são todos os que fazem aquilo que não fazemos; ao menos não
quando alguém nos vê. ELES são NÓS em situações que não
vivemos, e que, em nossa perfeição, nos é inimaginável. Assim,
dividimos ainda mais o nosso coletivo em bons e maus, íntegros e
desonestos, simpáticos e intolerantes... nós e eles.
Amamos fazer parte do NÓS, mas lá no fundo, bem dentro da nossa
maior intimidade, sabemos que o que realmente nos importa é o EU.
Isso, no entanto, é coisa dELES.
Não, NÓS não somos assim.