A morte presa entre meus dedos é pálida e valsa comigo desde meus quinze anos. Fria, ela me seduz, envolvendo-me em seus braços traiçoeiros, apenas para abandonar-me as margens de um vazio profundo e inconsolável.
Cara, cobra seu preço impiedosamente, tirando de mim o juízo, a dignidade e o que me resta de humano. Faz-me seu escravo e, ainda assim, é por ela que chamo quando as coisas querem fazer sentido.
Levou bons amigos, trouxe-me a loucura. Tenho dela nojo e por mim, desprezo. Sendo assim, vou abraçá-la uma última vez. Iremos juntos nesta derradeira viagem ao inferno. Sem pensar nos limites, mergulharemos fundo na imundice de minha existência e quando tivermos ultrapassado o ponto de retorno, só me restará o abandono. Então eu a terei vencido.
Vejo que ela duvida, zombando de mim. Não acredita que eu seja capaz, mesmo quando já tenho o metal cravado na carne. “Amanhã talvez, não hoje”, ouço-a sussurrar. “Posso levá-lo a lugares muito mais interessantes”.
Sinto-me tentado. Quem sabe amanhã? Afinal que diferença fará mais uma dose? Quase a ponho de lado, mas então escuto seu riso. Se não agora, nunca mais. Seguro firmemente o cilindro e desperto nela o pânico; já não tenho mais graça. Um suspiro de alívio, uma lágrima e empurro o êmbolo até o final. Em um instante, sinto-a gritar em minhas veias. Fecho os olhos e gozo dela pela última vez.
E já que o assunto é Morte, enjoy it...