Desconsiderando
a opinião de amigos, que desaconselhavam às pessoas assistirem ao tal vídeo da enfermeira
espancando o cachorrinho, resolvi vê-lo. Normalmente eu concordo que ver esse
tipo de violência é sofrer à toa e dar popularidade a gente ruim, mas, nesse
caso, foi diferente. Assistir ao vídeo mudou minha perspectiva sobre o que
aconteceu e me desconcertou muito mais.
Eu
esperava cenas de uma pessoa que, acometida por ataque de fúria insana, agredisse
o animal, possivelmente surpreendido cometendo um pecado imperdoável, como o de
roer um sapato caríssimo. Ou, quem sabe, a fera, na enormidade de seus dois
quilos, houvesse atacado a moça e ela, vítima de uma fobia absurda, tivesse
coberto de pancadas o pequeno demônio para proteger a própria vida.
Mas
o vídeo não traz nada disso. Não há gritos furiosos. Não há caos. Não se vê raiva
contida que, de repente, explode e extravasa em forma de violência. Sequer se
nota qualquer emoção ou reação por parte da agressora. Ela é fria e sádica;
persegue, tortura e, no fim, ainda arruma os petrechos do bichinho, antes de
prendê-lo, ferido, sob um balde. Gelada.
Como
justificar uma atitude dessas? Ela disse que estava num “mau-dia”. Eu fico
pensando como seria chegar ao hospital e ser cuidado por essa criatura quando
ela estivesse num “péssimo-dia”. Não satisfeita, ela vai mais longe ao dizer
que não é um monstro, porque as pessoas não sabem o que ela sofreu com aquela “peste”.
É verdade, ninguém pode imaginar as atrocidades que um ser infernal, como um
yorkshire, é capaz de cometer contra seu dono.
O
pior é que já tem gente dizendo que, apesar da violência, é barulho demais por
causa de um cachorro. A eles eu digo: esqueçam o cachorro. Pensem só que é dessa
flor de candura a mão que balança o berço do seu filho no berçário; essa alma
caridosa é quem zela pelo seu pai, que se encontra incapacitado sobre uma cama
de hospital; é ela quem cuida para que você fique menos desconfortável quando
está doente e frágil.
Levem
ainda em consideração que toda a brutalidade foi cometida dentro do lar dessa
dona e diante do próprio filho. Do que será que ela é capaz em um ambiente
pouco estressante, como é um hospital, quando não há ninguém por perto?
Está
na hora de parar de enxergar os maus-tratos a animais como preocupação de um
grupo de protetores que, sem mais o que fazer, causa tumultos nas redes sociais.
Criaturas como essa mulher expõem nossa face mais desumana e se não
nos indignamos diante disso o que somos?
Dizem
que quem comete violência contra animais está a um passo da violência contra
pessoas. Eu discordo. Quem faz tal maldade contra um cão indefeso já está
pronto, só precisa de uma oportunidade.