Parei, por um instante, de escovar os dentes para poder ouvi-los melhor e suspirei, desanimada, ao identificar os gritos já conhecidos. Pensei se caberia a mim, mais uma vez, por fim àquilo e lancei, irritada, a escova de dentes dentro da pia. Sentei-me na cama por um momento, ponderando se devia ou não pegar o telefone. E de que adiantaria? Nada mudara nas últimas vezes.
Foi o pranto da filha mais velha que me deu a certeza de que finalmente havia acabado. Ninguém iria parar na Emergência; a ambulância não viria dessa vez. Ele não seria liberado no dia seguinte, como acontecera outras vezes. Certamente ficaríamos um tempo sem vê-lo. Se ao menos o tivessem levado antes, talvez não houvesse um fantasma na casa ao lado.
Enfim, ela descansa... e eu descanso também. Não há mais gritos, nem ligações para a polícia e as crianças já não choram. Pensei em me mudar, mas, que droga! Por que isso faria sentido agora? Se pude conviver por tanto tempo com o fato de morar ao lado de um monstro assassino, por que me incomodaria uma assombração na casa vizinha?
Pôxa, intenso e introspectivo.
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