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Lula Marques/Folha Imagem |
Resolvi
calar-me. Não tenho mais gana de debater o óbvio, quando quem devia estar apoiando
finge ou é ignorante demais para compreender o que falo. “É por R$ 0,20 ?” “ É
por causa do estádio?” “ Você usa transporte público?” “Por que ao invés de protestar,
não tiram o dia para ajudar ao próximo?”
“Baderneiros!” “ Mauricinhos, rebeldes sem causa!”
Chega!
É cansativo demais!
Afinal,
o Brasil está bom, não é mesmo?
O
transporte não é tão ruim e nem é tão caro.
Não
me importo de gastar quase um terço da nossa renda na educação das crianças. Meus
filhos não estudam em escola pública. Muitos dos jovens nas manifestações
também não. Loucos! Educação é tudo! Pelo menos a dos meus filhos...
Temos
plano de saúde. Dane-se a saúde pública! Apesar de que sou eu quem a custeia...
Mas não a uso! Então não me importo que esteja sucateada. Tomara que eu não
sofra um acidente e, socorrida pelo serviço de emergência, seja levada para o Hospital
de Base. Cruzes! Tomara também que aquele tio ou amigo querido, que não tem
acesso à saúde privada, não precise de internação ou cirurgia. Vamos rezar pra
isso!
Não
sou egoísta, nem invejosa. Não é porque não curto tanto o futebol e não estou
disposta a pagar um horror para assistir a um jogo, que irei protestar contra
os gastos exorbitantes para a realização de um evento de um dia. Tá certo que
quem pagou para assistir pagou duas vezes. Eu, que paguei uma vez só, não tenho
direito nem de me aproximar do estádio em dia de espetáculo. Mas, e daí? Não
tava mesmo afim de muvuca. Bala de borracha e gás lacrimogêneo é coisa pra
vândalos; não me misturo com essa gente.
E
a segurança... Ah, a segurança! Perfeição! O traficante que tinha hora pra
atender os “clientes”, na área verde em frente ao meu prédio, nunca foi
incomodado. Mas também, ele não fazia baderna e não portava cartazes contra o
governo. Além disso, depois da quinta ligação para a polícia (militar e civil),
decidi que era hora de parar de insistir, afinal eles me disseram que já tinham
recebido denúncias sobre o fato e que estavam trabalhando na investigação.
Investigação do tráfico leva tempo... tipo, três anos é bem razoável.
Oras,
manifestações são, sim, toleradas e até bem vistas pelo governo. São a prova de
que vivemos num regime democrático! Mas, sem incomodar ninguém, né? Por favor!
Façamos nosso protestos nos finais de semana ou feriados, com hora marcada, de
preferência pelo Eixo Monumental, e paremos diante do Congresso. Seremos
ouvidos pelos turistas na Praça dos Três Poderes e... e pelos pombos!
Depois
de tudo o que vi e ouvi nos últimos dias, os comentários, as críticas, as
explicações, fiquei pensando sobre um documentário a que assisti sobre animais
de rebanho. E é isso que somos! Mas é aí que está o grande lance: não
precisamos ser bovinos, podemos ser antílopes. Os predadores sabem dos riscos
de enfrentar um rebanho unido e é por isso que sempre ataca pelos flancos,
separando e enfraquecendo sua presa.
Ah,
mas cá estou eu falando de rebanho! Nada disso é pra nós, brasileiros. Somos um
povo politizado, civilizado, que se constrange de vaiar políticos em eventos
internacionais porque teme passar uma imagem ruim aos estrangeiros.
Afinal,
vaiar pra quê? O Brasil tá tão bom como está!
Que show! Compartilhei no Facebook, igual ao Emerson. Beijo!
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