"As pessoas me perguntam por que eu escrevo coisas tão brutas. Gosto de dizer que tenho um coração de menino; está guardado num vidro em cima da minha escrivaninha."

(Stephen King)



segunda-feira, 17 de junho de 2013

Ah, mas tá tão bom!

Lula Marques/Folha Imagem

Resolvi calar-me. Não tenho mais gana de debater o óbvio, quando quem devia estar apoiando finge ou é ignorante demais para compreender o que falo. “É por R$ 0,20 ?” “ É por causa do estádio?” “ Você usa transporte público?” “Por que ao invés de protestar, não tiram o dia para ajudar ao próximo?”  “Baderneiros!” “ Mauricinhos, rebeldes sem causa!”
Chega! É cansativo demais!
Afinal, o Brasil está bom, não é mesmo?
O transporte não é tão ruim e nem é tão caro.
Não me importo de gastar quase um terço da nossa renda na educação das crianças. Meus filhos não estudam em escola pública. Muitos dos jovens nas manifestações também não. Loucos! Educação é tudo! Pelo menos a dos meus filhos...
Temos plano de saúde. Dane-se a saúde pública! Apesar de que sou eu quem a custeia... Mas não a uso! Então não me importo que esteja sucateada. Tomara que eu não sofra um acidente e, socorrida pelo serviço de emergência, seja levada para o Hospital de Base. Cruzes! Tomara também que aquele tio ou amigo querido, que não tem acesso à saúde privada, não precise de internação ou cirurgia. Vamos rezar pra isso!
Não sou egoísta, nem invejosa. Não é porque não curto tanto o futebol e não estou disposta a pagar um horror para assistir a um jogo, que irei protestar contra os gastos exorbitantes para a realização de um evento de um dia. Tá certo que quem pagou para assistir pagou duas vezes. Eu, que paguei uma vez só, não tenho direito nem de me aproximar do estádio em dia de espetáculo. Mas, e daí? Não tava mesmo afim de muvuca. Bala de borracha e gás lacrimogêneo é coisa pra vândalos; não me misturo com essa gente.
E a segurança... Ah, a segurança! Perfeição! O traficante que tinha hora pra atender os “clientes”, na área verde em frente ao meu prédio, nunca foi incomodado. Mas também, ele não fazia baderna e não portava cartazes contra o governo. Além disso, depois da quinta ligação para a polícia (militar e civil), decidi que era hora de parar de insistir, afinal eles me disseram que já tinham recebido denúncias sobre o fato e que estavam trabalhando na investigação. Investigação do tráfico leva tempo... tipo, três anos é bem razoável.
Oras, manifestações são, sim, toleradas e até bem vistas pelo governo. São a prova de que vivemos num regime democrático! Mas, sem incomodar ninguém, né? Por favor! Façamos nosso protestos nos finais de semana ou feriados, com hora marcada, de preferência pelo Eixo Monumental, e paremos diante do Congresso. Seremos ouvidos pelos turistas na Praça dos Três Poderes e... e pelos pombos!
Depois de tudo o que vi e ouvi nos últimos dias, os comentários, as críticas, as explicações, fiquei pensando sobre um documentário a que assisti sobre animais de rebanho. E é isso que somos! Mas é aí que está o grande lance: não precisamos ser bovinos, podemos ser antílopes. Os predadores sabem dos riscos de enfrentar um rebanho unido e é por isso que sempre ataca pelos flancos, separando e enfraquecendo sua presa.  
Ah, mas cá estou eu falando de rebanho! Nada disso é pra nós, brasileiros. Somos um povo politizado, civilizado, que se constrange de vaiar políticos em eventos internacionais porque teme passar uma imagem ruim aos estrangeiros.

Afinal, vaiar pra quê? O Brasil tá tão bom como está!

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