"As pessoas me perguntam por que eu escrevo coisas tão brutas. Gosto de dizer que tenho um coração de menino; está guardado num vidro em cima da minha escrivaninha."

(Stephen King)



terça-feira, 13 de maio de 2014

NÓS somos assim.



Somos o fracasso.
Independente do que acreditamos não há como nos vermos de outra maneira. Somos o fracasso da Criação e da Evolução. Não atendemos às expectativas de Deus, nem tampouco somos melhores que nossos ancestrais primitivos. Ainda somos turba, somos bárbaros, somos animais guiados por instintos e sem empatia. Não qualquer animal, somos os piores, pois nos julgamos superiores.
Adoramos ser o que somos. Orgulhosos das bandeiras que levantamos e das fronteiras que nos limitam. Somos homens, mulheres, machistas, feministas, homos, héteros, cristãos, muçulmanos, ateus, liberais, conservadores, capitalistas, comunistas, negros, brancos... só não somos humanos. Certamente não no sentido de enxergarmos o outro como semelhante.
Somos educados, ou fingimos ser, e dizemos que “aceitamos” as diferenças, mas, cá entre nós, de que vale e a quem pode interessar essa aceitação?
Falamos em respeito e bradamos por ele. Contudo nosso respeito acaba quando saímos da condição de quem pleiteia para a de quem decide. E decidimos sempre pensando em nós . Fazemos concessões esperando que o mesmo seja feito em contrapartida. E quando frustrados, não nos furtamos de exigir a reciprocidade. Ora, que nobre somos!
E nos arrastamos nessa dança macabra há milênios, vivendo a ilusão de que melhoramos, evoluímos, nos aperfeiçoamos. Inocentes ou hipócritas, não importa, o que vale é seguir em frente. Até nos depararmos com cenas que nos fazem lembrar de onde viemos. Acontecimentos que chocam e nos fazem virar o rosto. Repudiamos, é claro, e repetimos o mantra de que não somos assim. Não matamos, não torturamos, não sequestramos, não massacramos... não somos assim!
Daí criamos mais um “ELES”. Mas o que são ELES, então, se não são NÓS?
ELES são todos os que fazem aquilo que não fazemos; ao menos não quando alguém nos vê. ELES são NÓS em situações que não vivemos, e que, em nossa perfeição, nos é inimaginável. Assim, dividimos ainda mais o nosso coletivo em bons e maus, íntegros e desonestos, simpáticos e intolerantes... nós e eles.
Amamos fazer parte do NÓS, mas lá no fundo, bem dentro da nossa maior intimidade, sabemos que o que realmente nos importa é o EU.
Isso, no entanto, é coisa dELES.
Não, NÓS não somos assim.


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