"As pessoas me perguntam por que eu escrevo coisas tão brutas. Gosto de dizer que tenho um coração de menino; está guardado num vidro em cima da minha escrivaninha."

(Stephen King)



sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Carta a Hitler


Texto escrito para o Desafio de Escritores, cuja tarefa consistia em escrever uma carta a Hitler, do ponto de vista do final do século XX, considerando que ele vivesse, nessa época, em Bariloche.

Adolf, 
   Esta carta vem pôr um ponto final em nossa relação; estou te deixando. Cansei-me de teus resmungos de frustração, de tua arrogância injustificada e de tua frieza. Não suporto mais ouvir-te suspirar “Se eles...”, “Se não fosse...”, “Se tivessem...”... Basta! Já que não admites que arruinaste a ti e ao teu país, assume ao menos que destruíste minha vida. 
   Há dias, venho pensando na história de outra Eva, a daqui. Sua vida será retratada em um filme. Sobre mim, jamais farão um filme. Culpa minha e culpa tua. Sempre que falam de mim, descrevem-me como uma mulher inexpressiva, vazia e até obtusa. Mas a verdade, e talvez nem tu o saibas, é que não sou nada disso. Ao contrário do que possas pensar, Adolf, sou bastante inteligente, porém tive que me rebaixar muito para estar a tua altura. Anulei-me para estar ao teu lado, primeiro, por deslumbramento adolescente, depois, por amor, e, por fim, por conformismo.
   Entendi, há tempos, que não te limitaste a perseguir os que não te compreendiam, mas calaste também os que enxergavam tua mediocridade. Tive medo de que visses, através de mim, tuas fraquezas. Calei-me e igualei minha covardia à tua. Mas o que devo temer agora? Um velho amargo que perdeu a máscara de superioridade e que passa os dias a praguejar?
   E eu que pensei que te casaste comigo, às vésperas de nossa fuga, porque não me querias perder. Grande ilusão! Tu não querias era estar só em teu fracasso. Arrastaste-me para o exílio apenas por medo da solidão. Eis que farsa foi nosso casamento e que arremedo de marido tu me foste. Digo-te que, em todos esses anos que aqui vivemos, nunca fui feliz.
   Espero que possas, ainda que uma única vez antes de morrer, encarar o mal que fizeste. Tua nação tem vergonha de ti e teu povo ficou marcado por conta das atrocidades que cometeste. Enxerga, homem, tua pequenez. Desce desse pedestal de mentiras onde te instalaste. Que grande estadista foste, se sequer podes sair à rua e dizer aos outros quem és? Se te julgas mesmo tão superior a essas pessoas, que com desprezo chamas de “gente de fala enrolada”, por que não alardeias teus feitos diante delas? Covarde é o que sempre foste! Este povo te cuspiria na cara se te conhecesse.
   Enfim, não posso mais te suportar. Azedas e infectas tudo ao teu redor; preciso limpar-me de ti. Não te preocupes, não tenho qualquer intenção de entregar teu paradeiro; lembro-me de teu pânico, quando descobriram Mengele no Brasil.
   Deixo Bariloche, mas não a Argentina; gosto daqui. Não estou fugindo de ti e sequer pedirei que não me procures, pois sei que, em tua inércia, és incapaz de buscar o que quer que seja.
   Fica e reina no império que conquistaste.

             Eva Braun 

Um comentário:

  1. Olá, amiguinha...
    Finalmente tomei vergonha na cara e vim prestigiar um pouco teu espaço (inserir seu endereço entre os favoritos do meu Blog). Muito bacana essa carta, quer dizer, arrasadora, pra ser mais exato. Pobrezinho do Führer. Será que o pobrezinho merecia esse massacre?? Eu sei, eu sei... não precisa responder, rsrsrs.
    Beijos, escritora!!

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