"As pessoas me perguntam por que eu escrevo coisas tão brutas. Gosto de dizer que tenho um coração de menino; está guardado num vidro em cima da minha escrivaninha."

(Stephen King)



segunda-feira, 29 de maio de 2023

O que havia




Havia uma tristeza.

Pairada etérea no ar

E em tudo depositada

Como fina poeira em camada.

Que as cores desbotava

Azedava todo sabor

Tornava amargo cada gole

Qualquer canção silenciava.

 

Havia um descaso em existir.

Nas roupas pelo chão espalhadas

Nas louças sujas na pia

No cheiro de ranço e mofo

Nas cortinas permanentemente cerradas.

 

Havia um desespero.

Nos livros de páginas rasgadas

Na pele nua ferida

No espelho em tantos partido

No corpo convulsivo em pranto

Só, sobre o leito encolhido.

 

Havia uma dor lancinante.

Violenta e intensa como um parto

Sutil, permanente, pulsante.

Que viu na janela um passo

Um pássaro

Sem asas, um anjo caído

Curtos andares, na calçada

De tudo desprovido

Repleto, cheio, farto de nada.


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