Havia uma tristeza.
Pairada etérea no ar
E em tudo depositada
Como fina poeira em camada.
Que as cores desbotava
Azedava todo sabor
Tornava amargo cada gole
Qualquer canção silenciava.
Havia um descaso em existir.
Nas roupas pelo chão espalhadas
Nas louças sujas na pia
No cheiro de ranço e mofo
Nas cortinas permanentemente
cerradas.
Havia um desespero.
Nos livros de páginas rasgadas
Na pele nua ferida
No espelho em tantos partido
No corpo convulsivo em pranto
Só, sobre o leito encolhido.
Havia uma dor lancinante.
Violenta e intensa como um parto
Sutil, permanente, pulsante.
Que viu na janela um passo
Um pássaro
Sem asas, um anjo caído
Curtos andares, na calçada
De tudo desprovido
Repleto, cheio, farto de nada.
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